Migrantes empreendedoras: atividades autônomas de geração de renda

Mulheres migrantes começam sua trajetória laboral no Brasil através do apoio à geração de renda do IMDH e Fundación Avina.

Akou é migrante do Togo, oeste do continente africano. Laura é colombiana, artista e jovem mãe. A venezuelana Raquel vive há dois meses em Brasília. Além do caminho migratório para o Brasil, o que as une são seus projetos empreendedores. O IMDH, nesse sentido, possui um trabalho direcionado ao incentivo à geração autônoma de renda e, com o apoio da Fundación Avina, proporcionou a essas mulheres a oportunidade de recomeçarem seus projetos no Brasil.

O trabalho autônomo é uma alternativa para pessoas migrantes que chegam ao Brasil e possuem vontade de empreender. Para orientá-las no recomeço dos projetos, o IMDH fornece uma série de informações aprofundadas sobre trabalho no Brasil. Dentre estas, há um atendimento específico sobre MEI (Cadastro do Microempreendedor Individual), o que possibilita que os migrantes regularizem suas atividades e expandam seus negócios.

Segundo Fernando Damazio, coordenador do setor de integração laboral do IMDH, o apoio a mulheres em seus empreendimentos está alinhado com os desafios específicos que estas brilhantes profissionais enfrentam. “Desde falta de vagas em creches até machismo nas seleções de emprego. O mais interessante é que esta ação se tornou focada em mulheres por conta dos bons projetos apresentados por elas e suas visões de negócio. Pudemos verificar a vontade de empreender atividades de geração de renda, estas dão oportunidades de flexibilidade de tempo e deslocamento para exercer o trabalho, mas também são efetivas para lhes darem independência financeira”, enfatiza.

Conheça abaixo três histórias de mulheres migrantes, de diferentes países, que estão iniciando seus projetos. Nos relatos, a possibilidade de trabalhar é o caminho não apenas do fortalecimento financeiro, mas também da esperança para o futuro, recuperação da autoestima, e ainda, mostra que, quando existem oportunidades, não há fronteiras para os sonhos.

Akou

Togo é o país em que Akou deu seus primeiros passos, não somente na vida, mas também no ofício da costura. No seu país, ela tinha um ateliê e se dedicava a ministrar aulas de costura de roupas tradicionais para jovens togolesas. Em meio a tantas cores e alinhavares de diferentes formas, ela criava peças, e dali, contribuía para o sustento da sua família. Até que a migração foi o caminho que a vida lhe apresentou. Seu marido, Kokou, teve de pedir refúgio no Brasil em 2016, mudando-se para São Paulo, deixou a esposa e as duas filhas para trás.

Em menos de um ano, Kokou conseguiu chegar a Brasília e reuniu a família no novo país, recebendo do IMDH toda a orientação e auxílio para a documentação. Meses depois, Akou, já no Brasil, engravidou do seu terceiro filho, Adriano, o primeiro brasileiro da família, agora com 8 meses. Mesmo com todas as fronteiras encontradas no Brasil, Akou permanecia com o sonho de retomar seu ofício. Assim, no final de 2018, conseguiu emprestada uma máquina de costura, e retomou aos poucos o trabalho. Mas, o que ela realmente queria era a liberdade de  gerir o seu negócio no Brasil.

Com o auxílio do projeto de apoio à geração de renda, houve a compra de uma máquina de costura. Além disso, Akou também recebeu toda orientação para o Cadastro de Microempreendedor Individual, adquiriu sua primeira máquina de pagamento via cartão e segue buscando parcerias para expor seus produtos em feiras e eventos.

No primeiro mês de produção e quase completando dois anos no Brasil, Akou consegue ver com mais esperança o seu futuro. Com a venda das suas primeiras peças, já conseguiu repor parte do estoque de tecidos que importa de Angola para sua confecção e sonha em ampliar ainda seu projeto. “O que eu quero é conhecer as feiras e exposições, aprender mais português para aumentar o meu negócio. Quero ser independente novamente. Agora, eu sinto que posso”. 

Laura

Desde 2016, a jovem colombiana (21 anos) e andarilha Laura vive no Brasil. “Andarilha” porque ela decidiu sair de casa bem cedo para conhecer a América Latina. Caminhou pelo Peru, a Bolívia, e todo o Sul do Brasil. No mesmo ano em que chegou ao Brasil, teve seu primeiro filho, Ádrian. Em 2018, nasceu Owa. Com dois filhos, e enfrentando dificuldades para registrar o segundo filho por questões documentais, Laura foi em busca de apoio a migrantes em Brasília e descobriu o IMDH. Em uma das suas vindas ao IMDH em busca de informações, expressou a vontade de começar um projeto de produtos naturais, mas não havia nenhum capital inicial para começar o trabalho. Desempregada e sozinha na cidade, a possibilidade de produção caseira era tudo que Laura precisava para recomeçar sua jornada laboral.

Com o apoio da Avina, o IMDH intermediou a compra de óleos essenciais e base vegetal para os primeiros sabonetes. Paralelo a isso, Laura conseguiu registrar seu filho no cartório, e dar-lhe a nacionalidade brasileira. Além disso, fez no Instituto seu projeto de identidade visual e começou suas primeiras produções. “Na minha primeira produção fui vender na rodoviária interestadual meus produtos. Vendi tudo, agora já estou embalando mais 60 sabonetes totalmente naturais. Com esse lucro inicial, já penso em investir na produção de outros produtos, como desodorantes e loções naturais. Acredito que a partir de agora, minha vida está recomeçando”, conta entusiasmada.

Raquel

A designer de unhas morava em Santa Helena do Uairén, cidade venezuelana que faz fronteira com o Brasil. Pela proximidade com o Brasil, já era de costume transitar entre as cidades brasileiras de Pacaraima e Boa Vista. Com o agravamento da crise na Venezuela, Raquel mudou-se para o Brasil em busca de alternativas de trabalho.

Chegando a Boa Vista, morou nas ruas com seus dois filhos, de 13 e 12 anos, até que conseguiu uma vaga no abrigo Rondon 2, em Boa Vista. Ela notou que o mercado estava muito fechado para os venezuelanos, exatamente por conta da xenofobia, poucas pessoas abriam espaço para seu trabalho. Por isso, recorreu à interiorização por meio do programa do Governo Federal coordenado pelo ACNUR e outras agências da ONU, e há 2 meses chegou em Brasília. Inicialmente recebeu apoio durante um mês no abrigo em Brasília e, no segundo mês, apoio para o aluguel.

Mas o que Raquel queria mesmo era começar a trabalhar o quanto antes, porém, assim que chegou a Brasília, perdeu todos os seus materiais para fazer unhas e não tinha recursos para recomeçar. Desta maneira, Raquel também foi beneficiada com o projeto de geração de renda, e pôde adquirir os principais utensílios de trabalho. Com os materiais necessários em mãos, o segundo processo foi orientá-la sobre o trabalho no Brasil, deveres e direitos, sobre o MEI e ainda encaminhá-la para o Sebrae.

Portando os utensílios e conhecimentos necessários, Raquel em apenas 1 mês, conseguiu uma vaga de trabalho em um salão no centro de Brasília. Pintou os cabelos, comprou seu primeiro batom no Brasil e reconstrói sua autoestima a partir do trabalho. “Aprendo novas técnicas e descubro outras maneiras de fazer unhas, ‘a gusto de las brasileiras’, e também apresento as técnicas que trouxe da Venezuela. Essa mistura tem dado certo”, finaliza.