O tráfico de pessoas é uma ferida “no corpo da humanidade contemporânea”, definiu o Papa Francisco. Milhões de pessoas – homens, mulheres e crianças –, vivem o drama de ser objeto de tráfico e outras formas de escravidão contemporânea. É um flagelo “atroz, uma chaga”, segundo palavras do papa, e que não se pode responder ao tráfico de pessoas apenas com “compromissos solenemente assumidos”. “Devemos ter cuidado com as nossas instituições – e na verdade com todos os nossos esforços – para que sejam realmente eficazes na luta contra estes flagelos”.
Neste dia 30 de julho, faz-se memória pelo “Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”. Esse drama humanitário desumaniza e transforma as pessoas em objetos, arrancando-lhes a dignidade e a liberdade, dois direitos essenciais. O tráfico de pessoas tem várias finalidades, como a exploração sexual, o trabalho escravo, o trabalho doméstico, a comercialização de órgãos e a adoção ilegal, entre outras. Segundo a ONU, quase um terço das vítimas desse tipo de crime são crianças, e 71% das pessoas traficadas são meninas e mulheres, em dados publicados em 2018.
Segundo dados do Disque 100, entre 2017 e 2020, no Brasil, foram registradas 86 denúncias de tráfico de pessoas envolvendo meninas até 18 anos. O dado chama atenção por ser acima da média global apresentada pelo relatório do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime da ONU). Enquanto a média nacional foi de 40%, os dados mundiais registram 34% de vítimas no mesmo período.
IMDH no enfrentamento ao tráfico de pessoas
Além de prestar assistência jurídica a imigrantes e refugiados no Brasil, o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH)/Irmãs Scalabrinianas também atua no enfrentamento ao tráfico de pessoas. Ir. Rosita Milesi, diretora do IMDH, destacou a importância de fortalecer a ação de combate a este mal que tanto massacra pessoas, famílias e a própria comunidade, ressaltando a necessidade de dar visibilidade ao tema, ao sofrimento e ao drama que o tráfico provoca nas pessoas. “Quando olhamos dados divulgados pelas Nações Unidas ou por outros órgãos que analisam essa temática, nos impressionamos. Depois quando observamos a realidade no dia a dia, vemos que são poucas as pessoas identificadas e que recebem a necessária proteção e a oportunidade de reinserção na sociedade, através da inclusão em políticas de acolhimento e de recuperação dos males que o tráfico lhes causou. Os poucos dados, os poucos registros não significam que o tráfico não existe ou que atinge a poucas pessoas. Significa, sim, que o tema e esta cruel realidade continuam na invisibilidade”, afirmou.
Ir. Rosita destacou, ainda, a dificuldade encontrada pelas vítimas de tráfico humano em denunciar o crime, muitas vezes por receio, medo, incerteza do que ocorrerá com elas, ou também porque não querem relembrar o sofrimento pelo qual passaram. “Às vezes, até por certo sentimento de generosidade, evitam de denunciar, principalmente as mulheres, porque dizem ter pena de fazer sofrer os filhos ou a família do traficante. Esta questão de identificarmos onde, quando e como ocorre o tráfico é um desafio para todos nós”. Há muito que avançar e fazer para superar ou, no mínimo, reduzir o tráfico humano.
Denúncias
As vítimas podem denunciar esses crimes por meio dos canais de comunicação do governo, como o Disque 100 (Direitos Humanos) e Ligue 180 (Secretaria de Políticas para as Mulheres). Além disso, os consulados brasileiros no exterior estão sempre orientados a oferecer apoio às vítimas e fazer as gestões para seu regresso ao País, quando assim o desejam.