Os migrantes e as reformas

Preparando o dia do migrante, a ser celebrado neste ano no domingo dia 22 de junho, temos pela frente a Semana do Migrante. Ela abre espaço para a complexa realidade das migrações, seja a nível mundial como dentro do Brasil. E’ uma das iniciativas da Pastoral dos Migrantes da CNBB. Sua validade fica facilmente demonstrada nestes dias, pelas celebrações populares que grupos de migrantes realizam em pontos estratégicos de migrações em nosso país.

 

D. Demétrio Valentini

Preparando o dia do migrante, a ser celebrado neste ano no domingo dia 22 de junho, temos pela frente a Semana do Migrante. Ela abre espaço para a complexa realidade das migrações, seja a nível mundial como dentro do Brasil. E’ uma das iniciativas da Pastoral dos Migrantes da CNBB. Sua validade fica facilmente demonstrada nestes dias, pelas celebrações populares que grupos de migrantes realizam em pontos estratégicos de migrações em nosso país.

Pelo Brasil afora, bolivianos, paraguaios, peruanos, se reencontram e podem expressar sua identidade através das celebrações que realizam, animadas de seu folclore e marcadas pela solidariedade que sustenta sua luta pela sobrevivência.

De modo semelhante, nordestinos, baianos, mineiros, cultivam suas tradições, e procuram manter relacionamentos familiares e sociais que lhes dão precioso suporte para superarem as dificuldades inerentes à sua difícil situação de deslocados do seu contexto vital e de estranhos em seu próprio país.

Desta vez, o lema da Semana do Migrante tem conotação bíblica: “Nossos pais nos contaram”. Ele sugere, evidentemente, a importância da memória histórica, para não perder a identidade cultural, que transmite valores vitais indispensáveis para os migrantes enfrentarem o novo contexto onde buscam sua sobrevivência.

Mas, a memória bíblica traz um valioso testemunho da dimensão positiva da migração. Os grandes personagens do Antigo Testamento foram migrantes. Abraão saiu da Caldéia e foi peregrinando em busca de uma terra para a sua descendência. Jacó, qual nordestino, juntou sua família e foi morar no Egito, onde era possível sobreviver naquele tempo de vacas magras.  Mais tarde, Moisés liderou a migração coletiva do povo de Israel, em direção à terra  prometida, onde poderiam afirmar sua autonomia e garantir sua liberdade.

Na verdade, a migração acaba testemunhando a necessidade permanente de superar situações que se desgastaram, e que precisam ser ultrapassadas. A migração sinaliza a urgência de mudanças.

Assim o comprova a história. As grandes ondas migratórias foram presságio de grandes transformações acontecidas no mundo. A queda do império romano foi advertida pela invasão dos “bárbaros”, que na verdade eram migrantes cheios de vitalidade que vinham dispostos a dar novo rumo aos acontecimentos.  O “novo mundo” que brotou da revolução industrial foi plasmado pelos migrantes europeus que vieram povoar a América.

Agora, de novo o mundo se vê pressionado por grandes ondas migratórias, que a muito custo são detidas pelos países que resistem a transformações que são demandadas pelo impulso vital da humanidade. Os Estados Unidos erguem muralhas para deter a entrada dos latinos. A Europa se protege da invasão dos africanos.

Mas a história mostra que a chama da vida está nas mãos dos migrantes. Eles são profetas das transformações.  Proclamam a urgência da partilha e urgem a socialização dos avanços da humanidade.

A  Semana do Migrante chega no momento em que o Brasil está envolvido no debate das reformas. Sua mais eloqüente postulação é feita pela grande massa de migrantes que andam pelo país à procura de sobrevivência.

Um deles está agora na Presidência da República. Sua condição de migrante nordestino lhe dá a autoridade moral mais consistente para empunhar a bandeira das reformas. Elas precisam ser feitas não para salvaguardar privilégios ultrapassados, mas para garantir a todos os brasileiros uma pátria onde possam trabalhar com responsabilidade e viver com dignidade.