Este ano de 2005, o tema do Dia Mundial do Refugiado é o “VALOR”. A propósito, o novo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Antonio Guterrez, assim se expressou: “Rendo honra ao valor dos milhões de refugiados, deslocados internos e todos aqueles e aquelas em condições similares.
Dia Mundial do Refugiado 2005
Este ano de 2005, o tema do Dia Mundial do Refugiado é o “VALOR”. A propósito, o novo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Antonio Guterrez, assim se expressou: “Rendo honra ao valor dos milhões de refugiados, deslocados internos e todos aqueles e aquelas em condições similares. Diariamente, vêem-se frente a desafios que nós outros sequer podemos chegar a imaginar”[2][1].
O tema – O valor de ser refugiado – sublinha a força de espírito que necessita quem tem que deixar tudo, muitas vezes inclusive a família, para escapar das graves dificuldades e perigos em que se encontra, onde sua própria vida ou a de seus familiares está ameaça.
A Agência da ONU para Refugiados, em seu Relatório recém divulgado, destacou que o número global de refugiados baixou em 4%, no ano de 2004, estimando-se em 9.2 milhões o total atual, o mais baixo em quase 25 anos. Mas, apesar do decréscimo, o dado global de pessoas das quais se ocupa o ACNUR, incluindo os solicitantes de asilo, retornados, apátridas e um total de 6.4 milhões de deslocados internos, aumentou para 19.2 milhões, segundo o Relatório do ACNUR.
A partir do dia 15 do corrente mês de junho, o ACNUR[3][2] conta com o novo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, o Sr. Antonio Guterrez, de nacionalidade portuguesa, que assim expressa sua preocupação com os milhões de refugiados, deslocados internos, apátridas, solicitantes de asilo e retornados que hoje se encontram sob amparo do órgão que ora dirige:
“Por trás de cada número há um ser humano. Ainda que possamos nos alegrar porque houve uma redução no número de refugiados e um incremento no número de retornados, devemos recordar que cada um destes 19.2 milhões de homens, mulheres e crianças sofreram o trauma do deslocamento, como também o sofrem milhões de deslocados internos que atualmente não estão sendo atendidos”.
A redução do número total de refugiados pode ser atribuída ao alto nível de repatriações voluntárias sem precedentes na história. Mais de 5 milhões de refugiados regressaram aos países de origem nos últimos 4 anos, dos quais 3.5 milhões retornaram ao Afeganistão.
O total de pessoas sob o amparo do ACNUR aumentou, em 2004, em mais de 2 milhões, somando o total já referido acima, de 19.2 milhões. Este aumento é devido ao incremento de deslocados internos, apátridas e outros grupos em situação semelhante, que alcançou o total de 7.6 milhões em 2004, quando, em 2003, somava 5.3 milhões de pessoas.
Vale sublinhar também que, em âmbito regional, o sul e o oeste da África tiveram os maiores decréscimos no número de refugiados no ano de 2004, com uma diminuição de 20% e 12% respectivamente. Para isto contribuíram as repatriações voluntárias de refugiados angolanos, liberianos e de Serra Leoa.
Embora os afegãos continuem sendo o grupo de refugiados mais numeroso do mundo, com 2.1 milhões, são os sudaneses que tiveram o maior crescimento em 2004. O Sudão gerou 125.000 novos refugiados, ano passado. Em sua maioria, estas pessoas fugiram de Darfur e se refugiaram no vizinho Chad. O total de refugiados sudaneses no mundo chegou a 731.000, em 2004.
Entre as 10 principais nacionalidades dos refugiados, temos:
– Afeganistão: 2.1 milhões
– Sudão (principalmente fugindo de Darfur): 731.000
– República Democrática do Congo: 462.000
– Burundi: 485.000
– Somália: 389.000
– Palestinos: 350.000
– Vietnã: 350.000
– Libéria: 335.000
– Iraque: 312.000
– Sérvia e Montenegro: 250.600
Os principais países de asilo são:
– Irã: 1.046.000 (a maioria formada por refugiados afegãos)
– Paquistão: 961.000 (a maioria também formada por afegãos)
– Alemanha: 877.000
– Tanzânia: 602.000
– Estados Unidos: 421.000
Alguns dados sobre refugiados no Brasil
O Brasil vem se inserindo cada vez mais na ação humanitária e de proteção aos refugiados. Ainda assim, o número de pessoas refugiadas no Brasil é de pouco mais de 52 diferentes nacionalidades. A preponderância é de africanos. Cresce, contudo, mais recentemente, a entrada de pessoas procedentes de países latino-americanos, particularmente da Colômbia, em busca de proteção. A tabela abaixo retrata o total de solicitações apreciadas pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), órgão de deliberação coletiva, responsável pela apreciação e decisão dos pedidos de refúgio formulados perante o Governo brasileiro.
Tabela 1 – Total de Refugiados no Brasil em fevereiro de 2005
(ACNUR E CONARE)
Continente de procedência |
Total
|
África |
2.506 |
América (América Latina e Caribe) |
274 |
Ásia |
181 |
Europa |
113 |
Total |
3074 |
Fonte: Conare
Os dados acima (Tabela 1) retratam o número de refugiados atualmente no Brasil. Somam-se neste total, tanto os refugiados reconhecidos em período anterior a 1998, quanto os reconhecidos a partir de então.
Contudo, se consideramos as solicitações de refúgio a partir da existência e atuação do CONARE, portanto a partir de 1998, o quadro é o seguinte:
Tabela 2 – Solicitações de Refúgio apreciadas pelo CONARE
(de 1998 a 31 de dezembro de 2004)
Ano |
Solicitações Deferidas |
Solicitações Indeferidas |
Solicitações Arquivadas |
Total de Solicitações |
1998 |
22 |
01 |
0 |
23 |
1999 |
170 |
33 |
0 |
203 |
2000 |
471 |
306 |
0 |
777 |
2001 |
119 |
185 |
0 |
304 |
2002 |
114 |
489 |
432 |
1.035 |
2003 |
80 |
221 |
32 |
333 |
2004 |
88 |
198 |
70 |
356 |
Total |
1064 |
1433 |
534 |
3031 |
Fonte: CONARE
Tabela 3 – Solicitações de Refúgio apreciadas pelo CONARE
(de 1998 a Fevereiro/2005)
Continente de procedência |
Solicitações apresentadas |
Solicitações deferidas |
Solicitações Indeferidas |
Perda da condição |
África |
1697 |
863 |
834 |
74 |
América |
426 |
148 |
278 |
4 |
Ásia |
159 |
55 |
104 |
|
Europa |
276 |
11 |
265 |
1 |
Apátrida |
1 |
|
1 |
|
Total |
2559 |
1077 |
1482 |
79 |
Fonte: CONARE
Estamos todos convidados a responder ao clamor dos quase 20 milhões de refugiados que há no mundo de hoje, escreve D. Luciano Mendes de Almeida (FSP, 11.06.05). E prossegue afirmando que estamos diante de um fenômeno que manifesta a desordem de valores que caracteriza tristemente a trajetória da humanidade. Se, por um lado, crescem os esforços para a democracia e o respeito aos direitos humanos, ao mesmo tempo perseguem-se pessoas e grupos porque pertencem a outra raça, religião ou partido político. O drama dos refugiados foi definido pelo Papa João Paulo 2º como a “chaga vergonhosa de nossa época”, recorda o prelado.
O Dia Mundial do Refugiado é um apelo e um desafio à solidariedade, a qual só tem sentido se traduzida em ações e gestos que venham somar forças e recursos para soluções duradouras em favor destes milhões de seres humanos, e na denuncia e combate às causas que os geram.
Brasília-DF, 20 de junho de 2005
Ir. Rosita Milesi, mscs
Diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, entidade parceria do
ACNUR na ação em favor dos refugiados
[1][1] Fonte: www.acnur.org, consultado em 19jun05.
[2][1] Fonte: www.acnur.org, consultado em 19jun05.
[3][2] O ACNUR possui 6 mil funcionários e está presente em 115 países.