São Carlos Borromeo e os tempos de pandemia

A congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas tem como Protetor São Carlos Borromeo que viveu nos anos de 1538-1584. Nasceu em Arona, na Itália. De família nobre, possuía muita riqueza e mesmo títulos honorários. Sem maiores preocupações com sua nobreza, decidiu dedicar-se à vocação sacerdotal. Carlos Borromeo foi ordenado sacerdote, bispo e arcebispo de Milão e, sucessivamente, Cardeal. Viveu apenas 46 anos, mas o suficiente para marcar sua vida pelo testemunho da humildade, da doação, do bem e da oração!

A vida de São Carlos imortalizou-se, sobretudo, na época em que uma epidemia, conhecida como Peste Italiana ou Peste Negra, atingiu Milão no ano de 1576, quando ele era arcebispo dessa Arquidiocese. Milão já era, desde então, o centro da riqueza do país. Naquele triste período da peste, os nobres e os governantes saíram da cidade para se resguardar do contágio, abandonando o povo. Poucos se compadeciam dos doentes, pobres e famintos. A confusão e o medo assolavam a cidade que ficou deserta e em ruínas. Dados sobre pessoas que morreram são um pouco divergentes, mas registra-se que cerca de 1,1 milhão de pessoas morreram na Itália.

Durante todo o período, o Arcebispo, compadecido, visitava pessoalmente os contaminados confinados em casa, lavava suas feridas, consolava-os e dava-lhes os Sacramentos. Sua atividade foi prodigiosa, como organizador e inspirador de confrarias religiosas, de obras de caridade, de institutos de beneficiência; organizou os religiosos para atender os doentes, pois milhares de pessoas eram alimentadas por dia, em uma iniciativa custeada pelo cardeal; utilizou todos os seus bens (e eram muitos) na construção e renovação de hospitais e de albergues para os pobres, organizou serviços sanitários, procurou recursos financeiros e gêneros de primeira necessidade para socorrer os famintos, decretou medidas preventivas para minimizar a disseminação da doença, e trabalhou para que os mortos fossem enterrados com dignidade. Carlos lançou mão de tudo o que possuía, para amenizar a triste situação dos doentes. Heranças ou rendimentos que lhe advinham dos bens de família, distribuía-os entre os desvalidos. Por fim, tendo esgotado todas as fontes de recursos, ele mesmo pedia esmolas para os pobres e abria assim fontes de auxílio.

São constantes em todos os estudos e escritos sobre São Carlos Borromeo que sua figura destaca-se no século XVI como modelo de pastor exemplar pela caridade, doutrina, zelo apostólico e sobretudo, pela oração. “Foi um verdadeiro pastor da Igreja no exercício de sua missão; visitou várias vezes toda a diocese, convocou sínodos e desenvolveu a mais intensa atividade, em todos os setores, promovendo por todos os meios a renovação da vida crista”, registra o livro A Oração das Horas do Ofício Divino.

A peste durou cerca de um ano (1576-1577). Nesse longo tempo de epidemia, Milão estava despovoada, até porque aproximadamente um terço da população havia morrido e o restante das pessoas estava confinada em suas casas. O Cardeal Carlos Borromeo, preocupado porque o povo estava sem missa, ordenou que fossem construídas nas principais praças e encruzilhadas da cidade, cerca de vinte colunas em pedra, com uma cruz, a fim de permitir que os habitantes pudessem, das janelas de suas casas, participar das missas e orações públicas que nestes locais eram realizadas.

Porém, esse longo período de doação incansável, consumiu suas forças. Tinha febres altas que o debilitaram muito. Fragilizado, após essa epidemia, sua atuação foi mais restrita e, poucos anos mais tarde faleceu com apenas quarenta e seis anos de idade. Antes de morrer, revelou estar feliz por ter seguido, em toda a sua vida, os ensinamentos de Cristo. Faleceu em 4 de novembro de 1584. Sua canonização foi celebrada pelo Papa Paulo V, em 1610.

Passados quase três séculos de sua canonização, o bispo de Piacenza, Dom João Batista Scalabrini, fundou duas Congregações: a dos Missionários de São Carlos Borromeo, fundada em 1887, e a das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrininias, fundada em 25 de outubro de 1895. Devoto que era de São Carlos, pelo seu amor revelado para com as pessoas, sobretudo no que tange ao amor aos fiéis, cuidado e zelo para com os pobres e doentes, e sua dedicação à cultura, escolheu-o como Patrono das duas Congregações.

A Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos (Scalabrinianas) tem uma comunidade situada no Varjão, no âmbito da Paróquia N. Sra. do Lago. Dedicam-se à atenção específica recebida do Fundador, que é trabalho junto aos migrantes e refugiados. No cumprimento desta missão, atendem, mensalmente, centenas de pessoas, procedentes de muitos países, que vem a Brasília para reconstruir ou recomeçar sua vida no Brasil. Trata-se de pessoas que foram forçadas a deixar sua terra de origem, por motivos de guerras, perseguições, destruição por desastres naturais, fome, ou violação generalizada de direitos humanos. Promovem também seminários e encontros de agentes de pastoral, com o que acaba de acontecer no mês de outubro – XVII Encontro Nacional da Rede Solidária para Migrantes e Refugiados – que congrega mais de 70 instituições de todo o País.

O lema de São Carlos Borromeo consistia em uma só palavra: Humilitas. E este é o lema e símbolo que as duas Congregações conservam e têm como inspiração.

Por Ir. Rosita Milesi e Ir. Marileda Baggio – Scalabrinianas