Projeto “Clima e Deslocamentos Humanos” realiza duas oficinas em Brasília 

Em um momento de aprendizado, mas também de grande troca de experiências e empatia, o projeto Clima e Deslocamentos Humanos – Nansen 2024, promoveu duas oficinas em Brasília-DF. Na sexta-feira e no sábado, 28 e 29 de novembro, o projeto realizou as ações na capital federal atraindo 65 inscritos, de diversas nacionalidades, que se reuniram na Casa Bom Samaritano, na sexta, e no Departamento de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB), no sábado. A parceria entre o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) tem garantido a realização deste projeto.

Os trabalhos foram conduzidos pelo facilitador haitiano Robert Montinard. A Irmã Rosita Milesi, diretora do IMDH e vencedora do Prêmio Nansen 2024, inspiradora do projeto Clima e Deslocamentos Humanos, abriu a atividade e fez a acolhida dos participantes. A dinâmica da oficina repetiu o que havia sido feito nas sete edições anteriores – antes de Brasília, o projeto já havia passado pelo Rio de Janeiro, Manaus, Belém e Canoas (RS).

“O caminho se faz caminhando… nestes encontros, não há professores e alunos, palestrantes e espectadores. O que há é um grupo onde todos e todas são atores, compartilhando experiências, e promovendo uma troca de conhecimentos e vivências. Sairemos deste encontro com algo mais do que trouxemos, vamos sair daqui melhores, enriquecidos com a troca de saberes que promovemos. O clima do mundo está mudando em decorrência de atitudes irresponsáveis da própria humanidade que, agora, sofre as consequências de questões climáticas devastadoras de vidas e da vida do planeta. Não podemos ignorar que esses eventos climáticos são os maiores provocadores de deslocamentos forçados na atualidade. Somos chamados ao cuidado do planeta Terra, a Casa Comum da humanidade”, disse Rosita.

A oficina estrutura-se em torno da metáfora do “caminho compartilhado”. Ela começa com a dinâmica “Bagagem e Destino”, na qual Montinard convida cada participante a se apresentar compartilhando uma palavra que trouxe de casa e outra que deseja encontrar na oficina. Expressões como “força”, “esperança” e “motivação” aparecem com frequência, estabelecendo intenções coletivas para o trabalho.

Em seguida, é realizado o “Jogo dos Três Caminhos”, momento central da oficina. Cada participante recebe três post-its coloridos para descrever sua experiência em relação à crise climática em três dimensões complementares. No post-it laranja, identificam “as pedras do caminho” — as principais dificuldades, injustiças e obstáculos relacionados à crise climática e à mobilidade humana que enfrentaram ou testemunharam. No post-it verde, registram os “caminhos da resistência” — as forças, saberes, redes de apoio e estratégias que sua comunidade já utiliza para se proteger e se adaptar. No post-it azul, sugerem “horizontes da caminhada” — mudanças, leis ou políticas públicas que acreditam serem necessárias para garantir direitos e justiça climática.

Posteriormente, em um momento de mapeamento coletivo, os participantes colam seus post-its nas respectivas trilhas de um painel grande, criando uma cartografia visual dos obstáculos, resistências e esperanças presentes no grupo. O facilitador ajuda a identificar padrões e conexões entre as contribuições, tecendo uma síntese que integra as vozes múltiplas.

Após o intervalo, a oficina adentra o “Caminho das Emoções”, momento de reflexão e expressão pessoal. Em um espaço silencioso e acolhedor, os participantes são convidados a expressar-se livremente por meio de linguagens múltiplas — desenho, carta, poesia, escritos — respondendo: “Que caminhos desta oficina mais me tocaram?” e “Das palavras que escutei hoje, qual quero levar comigo?”. Essa atividade permite que cada pessoa honre suas emoções em relação aos aprendizados da oficina e às suas próprias memórias sobre o tema do deslocamento e da justiça climática, conectando a vivência intelectual e comunitária da manhã com sua verdade emocional e pessoal.

À tarde, em grupos menores, os integrantes das oficinas avançam para o “Laboratório de Caminhos Comunitários”, onde refinam suas percepções e aprendizados em propostas concretas de ação. Cada grupo constrói uma iniciativa comunitária respondendo a questões-chave: qual é a proposta, como implementá-la, quem são os parceiros necessários, e que mudanças esperam alcançar em médio e longo prazos. Essa metodologia transforma experiências individuais de vulnerabilidade em soluções coletivas para a justiça climática.

Na oficina da Casa Bom Samaritano, Gloriane Antoine, do Haiti, que veio para o Brasil depois do terremoto que arrasou seu país de origem em 2010. Embora a causa de sua saída do Haiti não seja exatamente relacionada com a crise climática, Gloriane se identifica com o desalento sentido pelas vítimas de catástrofes naturais.

“Quando aconteceu o terremoto, entrei em dificuldades econômicas, senti medo e desespero. Optei pelo Brasil, e nesse percurso tenho muitos amigos, realizei muitas coisas junto com eles. A gente percebe que no que se refere a mudanças climáticas é notável a força das pessoas de outros países, e mesmo do Haiti, meu país. Viemos à oficina para podermos trabalhar isso”, afirmou.

O projeto Clima e Deslocamentos Humanos
O projeto é apoiado pelo ACNUR como parte do legado do Prêmio Nansen para Refugiados 2024, concedido à Irmã Rosita, pelo trabalho de mais de duas décadas dedicado à acolhida e defesa de refugiados e migrantes no Brasil. Com essa distinção internacional, o IMDH e o ACNUR ampliam sua atuação conjunta para articular em favor da Justiça Climática, da proteção humanitária e da construção de soluções comunitárias diante do aumento dos deslocamentos induzidos pelo clima.

Uma rede nacional em expansão
O projeto “Clima e Deslocamentos Humanos” conta com três eixos principais:
1. Formação e diálogo participativo
2. 10 oficinas formativas em quatro regiões do país, alcançando cerca de 300 participantes.
3. Construção de redes colaborativas, reunindo inicialmente 80 integrantes de universidades, grupos migrantes e organizações da sociedade civil.
4. Produção de conhecimento e incidência pública, com desenvolvimento de materiais multimídia, uma peça audiovisual interativa e publicações especializadas — entre elas a 19ª edição do Caderno de Debates Refúgio, Migração e Cidadania, dedicada à mobilidade humana em contexto climático.

Caminhos para a justiça climática
As oficinas em Brasília, lembrando que são a culminância de outras realizadas no Rio de Janeiro (RJ), em Belém (PA), em Manaus (AM) e em Canoas (RS) reforçaram o compromisso do IMDH e do ACNUR com a promoção de estratégias comunitárias de enfrentamento à crise climática, integrando diferentes vozes, trajetórias e saberes. Entre os 65 participantes, a diversidade de nacionalidades e experiências reiterou a importância de fortalecer redes solidárias e interculturais para lidar com os efeitos das mudanças climáticas em curso.