IMDH Solidário atendeu mais de cinco mil migrantes em Boa Vista-RR no último ano

 

A sede do Instituto Migrações e Direitos Humanos em Roraima completa um ano de trabalho direcionado especificamente para mulheres e crianças que migram para o Brasil. No primeiro ano de atuação, foram atendidas mais de cinco mil pessoas, destas, 3.398 foram mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade, onde parte significativa vive em casas alugadas superlotadas, ou em situação de rua.

O IMDH Solidário atende diariamente cerca de 80 migrantes em quatro eixos de trabalho: acolhida e apoio socioassistencial, integração educacional e cultural -proteção, documentação, processos- trabalho, emprego e geração renda. A expectativa é que neste ano, os serviços oferecidos em Boa Vista continuem acolhendo de maneira digna e segura as pessoas que migram por Pacaraima, ou por outras vias de acesso ao Brasil.

Além de acompanhamento direto para regularização migratória, tanto para solicitantes de refúgio quanto para solicitantes de residência, são oferecidos outros serviços de assistência. Entre elas, estão: visitas domiciliares, encaminhamento para vaga de trabalho, elaboração/atualização de currículo, orientações sobre acesso à educação, reserva de matrícula escolar, encaminhamento para curso de português, distribuição de cartilha multilíngue, entre outros serviços. Esses atendimentos, contribuem para a inserção social dos migrantes que chegam ao país em busca de novas oportunidades.

Joely de Valle, 37 anos, residente no Brasil há um ano, conta que migrou sozinha para Boa Vista e somente depois de 11 meses teve a possibilidade de trazer seus três filhos da Venezuela para Boa Vista. Para ela, uma das principais urgências quando se chega a outro país é regularizar-se, foi assim que ela conheceu o trabalho do IMDH Solidário, e conseguiu o encaminhamento para a residência, e também orientações para a emissão da  sua Carteira de Trabalho, orientação realizada de segunda a sexta pela equipe do IMDH.

“Ser mulher e migrante é mais complexo, porque na maioria das vezes não migramos sozinhas, trazemos os nossos filhos, por isso, acho esse trabalho especifico pra gente importante. Estar legal no país é uma das coisas principais. Quando cheguei ao Brasil foi a primeira coisa que fiz, agora, também estou buscando os documentos dos meus filhos”.

A regularização garante que as mulheres estejam mais seguras e cientes dos seus direitos e deveres, aumentam a possibilidade de conseguir um emprego formal e ainda, possibilita o acesso mais direto aos serviços públicos básicos. Entre os benefícios mais mencionados pelas mulheres está possibilidade de inserção dos filhos nas escolas, com o documento, a entrada da criança no ensino público é garantida com mais celeridade.

Segundo Ronildo, funcionário do IMDH Solidário, uma das maiores vantagens do pré-atendimento oferecido diariamente é a gratuidade, pois os migrantes conseguem o encaminhamento para regularização completo.

“As migrantes chegam ao IMDH e recebem uma foto 3×4, cópias dos documentos, formulários e emitem as suas declarações e tudo o que for necessário para a regularização, custo que muitas não conseguem arcar. Fora isso, as migrantes recebem orientações de como preencher e chegar a Polícia Federal com toda documentação completa, o que facilita muito a documentação imediata”.

Ysangela, venezuelana residente no Brasil há oito meses também migrou sozinha, e trouxe sua filha a pouco mais de duas semanas para viver com ela em Boa Vista, a primeira coisa que busca, é regularizar sua filha no país. “Não estamos passando fome, graças a Deus”, diz orgulhosa ao pontuar que foi com seu trabalho de faxina em casas de famílias, vendendo bolo e latinha que consegue comprar alimentos para ela e a filha. Mesmo com todo o esforço no trabalho autônomo, ela ainda não consegue pagar o aluguel de uma casa sozinha, por isso, divide uma kit-net com mais 16 pessoas da sua família.

O documento da filha de Ysangela servirá para que ela seja matriculada na escola e não perca nenhum ano letivo, algo priorizado pela mãe. Ela pontua que no período no qual a filha estiver estudando, ela continuará procurando emprego. “A documentação ajudará muito, pois ela estudará, e isso, me ajudará a ter mais tempo para procurar emprego enquanto ela aprende”, enfatiza.

O encaminhamento para as aulas de português também é um dos atendimentos mais solicitados pelos migrantes que chegam, pois eles buscam de maneira rápida assimilar o idioma local, para assim, conseguir  oportunidades de trabalho e também buscando o aprimoramento educacional, e integração à sociedade. Esse é o caso Kendy, venezuelana, residente há dois anos em Boa Vista, ela é concluinte do curso de português, encaminhada pelo IMDH. “Amo português, e depois de ter feito o curso, decidi que quero estudar a fundo o idioma, para futuramente ensinar a língua para outros conterrâneos”, diz.

Além do curso, Kendy se regularizou a partir das orientações e encaminhamento do IMDH, agora, sua mãe e irmão acabam de chegar a Boa Vista, e também já receberam o atendimento necessário para o pedido de refúgio. “A maioria dos venezuelanos são descriminados pela nacionalidade, mas quando somos regularizados, não temos medo de dizer que também fazemos parte dessa sociedade, por isso acredito que o trabalho de orientação para documentação é tão importante, nos devolve a identidade”, explica.

O trabalho diário que o IMDH Solidário desenvolve já beneficiou inúmeras famílias, em especial as mulheres e crianças venezuelanas que solicitam refugio no país, diante do agravo da crise na Venezuela, é importante que o trabalho de base garante uma migração segura, regulada e acolhedora para as famílias que se encontram em deslocamento forçado.