Migrantes ou não, as crianças precisam de ambientes que lhes ofereçam oportunidade de viver sua infância com alegria, espaços de acolhida, de vivências lúdicas, de convivência e aprendizagem.
No contexto da migração venezuelana em Roraima, o IMDH e a União Marista do Brasil (UMBRASIL), em parceria com a Paróquia Consolata, o Centro Marista de Defesa da infância (CMDI) e a Província Marista do Brasil Sul Amazônia (PMBSA) deram início, no dia 19 de maio, em Boa Vista, às atividades do projeto “Direitos Humanos e Infâncias em Movimento”. O objetivo central do projeto é promover o acolhimento das crianças refugiadas, migrantes e brasileiras em um espaço de arte-educação que estimule a integração cultural, de forma a combater a xenofobia, a discriminação e a marginalização e propiciando sua integração no
meio em que vivem.As etapas preparatórias foram marcadas por vários momentos: Celebração Eucarística ocorrida no domingo 19 de maio na Paróquia da Consolata, preparação do ambiente e capacitação dos monitores, celebrando o Dia de Scalabrini, e início das atividades dia 19 de junho de 2019, celebrando o Dia de Champagnat.
De segunda a sexta-feira, serão atendidas em torno de 50 crianças e adolescentes na faixa etária de 4 a 12 anos, no espaço criado especialmente para elas, ao lado do espaço em que funciona o IMDH, junto à Igreja da Consolata, Bairro São Vicente, em Boa Vista-RR. As atividades desenvolvidas não visam substituir o ensino formal, mas proporcionar atividades adicionais de interação que garantam o “Direito de Brincar”, partindo dos princípios da ludicidade, espiritualidade, aprendizagem e partilha – caminhos importantes para a socialização e a vivência plena da infância. As crianças participantes serão acompanhadas por uma equipe multidisciplinar em um ambiente livre, em que não será cobrada frequência ou matrícula prévia – facilitando, dessa maneira, a participação das crianças interessadas.
CAPACITAR PARA MELHOR ACOLHER
Além de dispor de ambiente acolhedor para o desenvolvimento de atividades educacionais e de intercâmbio cultural, o projeto dispõe de uma assessoria técnico-pedagógica para qualificar as mediações dos educadores junto às crianças. Segundo Cecília Heleno, do CMDI, dois módulos de assessoria já foram concluídos. o primeiro ocorreu presencialmente, entre os dias 16 e 17 de maio, no qual foi promovida a formação intensiva dos/as educadores/as e do Comitê Local das organizações envolvidas na gestão do projeto em Boa Vista. Outras 64 horas de assessoria acontecerão mensalmente, à distância, visando o aprimoramento das atividades e priorizando as particularidades das crianças, comunidade e realidade da região. “A constituição da assessoria técnica e a construção do Plano de Trabalho coletivo permitirão que o monitoramento e a avaliação sejam integrados às atividades, tendo em vista a realização dos impactos esperados e a sustentabilidade do projeto, a fim de: estender a todas as crianças, migrantes, refugiadas e brasileiras os mesmos direitos e desenvolver atividades lúdicas que respondam ao ‘Direito do Brincar’ e às necessidades básicas da infância”, explica Cecília.
Outra dimensão significativa do projeto relacionada ao contexto das infâncias e adolescências em movimento é o cuidado estabelecido com vistas a combater a exploração e violências, principalmente aquelas relacionadas ao trabalho-infantil, ao tráfico de pessoas e à exploração sexual. Nessa direção, a iniciativa também mobiliza organizações parceiras e voluntários no percurso para o fortalecimento do Sistema de Proteção das redes institucionais, bem como favorece o diálogo e contribuição da sociedade civil com os órgãos governamentais responsáveis. Assim, o projeto tem como foco o desenvolvimento de habilidades
socioeducativas no intuito de criar espaços de acolhida para que as violências ou possíveis violações sejam identificadas e encaminhadas para os devidos mecanismos de proteção gratuitos destinados às crianças e adolescentes no Brasil.
ESPAÇO PARA A EMPATIA E A INTEGRAÇÃO
Para Antônio Raí, Irmão Marista do Brasil Sul Amazônia e integrante do Comitê Local do projeto, a inserção das crianças em atividades socioeducativas tende a contribuir para a inserção laboral das mães, que, em diversas vezes, encontram dificuldades para deixar os filhos em locais seguros. “Resgatar o direito de brincar é também promover direitos. Mas, para além disso, o projeto oferece às crianças um espaço seguro enquanto seus pais, principalmente as mães, buscam exercer atividades laborais”, diz.
Pensar as infâncias na perspectiva do protagonismo e cidadania das crianças e adolescentes é um desafio no acolhimento às pessoas migrantes e refugiadas. O tema da educação é um exemplo disso. Em geral, as crianças em Boa Vista que estão em idade escolar possuem acesso às escolas; contudo, persistem ainda situações como falta de vagas em unidades próximas ao local de residência e ocorrem situações de discriminação que dificultam a adaptação da criança no ambiente formal de ensino.
Assim, várias razões apontam a importância de promover iniciativas que favoreçam a interação entre crianças brasileiras e imigrantes/refugiadas em um ambiente descontraído, amplo, lúdico, comunitário. Favorece a aproximação mais sensível e agradável e o estímulo à empatia e integração. Para Ir. Rosita Milesi, diretora do IMDH e uma das idealizadoras do projeto, “Esse ambiente amistoso e acolhedor, onde crianças migrantes, refugiadas e brasileiras terão oportunidade de trocas e convivências contribuirá para a sensibilização contra a xenofobia e para a expansão da dimensão cultural, linguística e cognitiva das crianças, oferecendo algumas horas diárias de atividades, diversão e aprendizagem, com acompanhamento e orientação de monitores, na simplicidade e na expressão de amor e de coleguismo a marcar e alegrar a vida destas crianças que já sofrem com tantas carências”.