Fazer memória da caminhada e das pessoas que percorreram essa trajetória. Foi desta forma, lembrando com muita emoção as vítimas da Covid-19 que doaram suas vidas pela causa da migração, que iniciou o XVII Encontro da Rede Solidária para Migrantes e Refugiados – RedeMiR. Com o tema “Migração e refúgio: acolhimento, proteção e integração em tempos de pandemia”, o encontro acontece de forma virtual, nos dias 05, 07, 19 e 21 de outubro de 2021.
Promovido pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH)/Fundação Scalabriniana e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR),com a colaboração de várias outras organizações, tendo a facilitação do FICAS, o encontro reúne mais de 150 pessoas, representando 72 organizações, incluindo seus núcleos regionais, de 36 cidades e 20 estados e o Distrito Federal, de todas as regiões do país. O formato on-line contribui para que um grande número de pessoas e instituições de diferentes regiões do país participem.
Em sua fala de abertura, Irmã Rosita Milesi, diretora do IMDH, manifestou sentimentos por tantas pessoas queridas, dedicadas ao trabalho humanitário, e que partiram precocemente, vítimas da Covid-19. Expressou solidariedade e, em conjunto com todo os e as participantes do encontro, foram recordados nominalmente os agentes humanitários que partiram. A eles e elas dedicou-se um minuto de silencio e de oração.
Dando início aos trabalhos, Ir. Rosita lembrou a importância do evento e expressou a alegria de poder partilhar junto a outros parceiros as lutas e conquistas para proteção dos migrantes e refugiados. “Esta Rede é formada por instituições da sociedade civil. Esta é sua configuração, sua finalidade e seu âmbito de abrangência. Sublinhou que “a RedeMiR não está fechada em si mesma. Por isso, todos os encontros nacionais são enriquecidos com a participação de organismos internacionais, de instâncias governamentais, de migrantes e refugiados, de órgãos de defesa de direitos e de colaboradores e colaboradoras. Esta interação é particularmente benéfica, por isso, procuramos sempre considerar esta articulação ampla e propiciar nos Encontros anuais a oportunidade de interagir com muitas forças que atuam no campo da migração e do refúgio”, lembrou a diretora.
Recordando a sua história de vida junto a seus avós imigrantes, Ir. Rosita ressaltou que agora é a nossa hora de erguer “monumentos” aos migrantes e refugiados é agora. “A nossa hora de erguer ‘monumentos’ é agora. Erguer o monumento humano e humanitário da acolhida, da proteção, da promoção e da integração, em resumo, o monumento da promoção humana integral dos migrantes e refugiados. E justamente porque este monumento é ambicioso, é grande e desafiador, não o erguemos isoladamente, mas de forma articulada, no apoio reciproco, na complementaridade, em sinergia”, finalizou Ir. Rosita.
Convidados falam sobre a realidade da migração
No primeiro dia de encontro, Paulo Sergio, do ACNUR, e Pe. Agnaldo Oliveira Jr., do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR Brasil), foram os convidados para a exposição inicial sobre o tema “Integração e acompanhamento dos migrantes e refugiados: o que aprendemos nesses últimos tempos?”
Paulo Sergio tratou sobre o panorama da inserção de migrantes e refugiados no mercado de trabalho. De acordo com o palestrante, a principal afetada atualmente é a população venezuelana que enfrenta dificuldades de inserção no mercado de trabalho. “Queria mencionar um levantamento recente feito pelo Banco Mundial, em parceria com o ACNUR, que apontou que as pessoas venezuelanas em idade ativa de trabalho têm apenas 33% das chances de conseguir um emprego formal, frente às chances de um brasileiro. Outro dado diz que 55% das crianças venezuelanas em idade escolar ainda continuam fora do ensino regular. Isso é bastante preocupante, a falta de acesso ao emprego formal, crianças e adolescentes fora da escola é uma realidade que infelizmente ainda existe no Brasil”, destacou Paulo Sergio.
Pe. Agnaldo Oliveira Jr. apresentou pontos necessários a serem considerados para inserção do migrante, como: Inclusão dos indivíduos nas mesas de discussão; ter cuidado no tratamento dos casos migratórios, para não inviabilizar outros movimentos; fundamentar o contexto para onde estão seguindo os migrantes; distinguir os grupos, para que haja uma tratativa conforme cada necessidade; e atender as demandas dos migrantes indígenas que seguem sendo negligenciadas pelo setor político. “É importante a realização deste encontro da RedeMiR, com gente de norte a sul do Brasil, alguns também no exterior, neste espaço de congregar organizações e pessoas movidas pelo mesmo objetivo de acompanhar as pessoas refugiadas e migrantes”, lembrou o diretor nacional do SJMR Brasil.
Após um momento de discussões em grupos, os participantes puderam acompanhar o relato das experiências de inserção econômica e laboral, através das falas de Yssyssay Rodrigues (OIM), Cristiane Sbalquero (MPT) e Mariana Reis (IMDH).
O próximo dia de trabalho deste XVII Encontro acontece nesta quinta, 7 de outubro, com o tema “Estratégias de proteção para grupos em situação de vulnerabilidade, com destaque para crianças e questões de gênero” e a partilha de vivências e depoimentos de migrantes em sua participação nos “Comitês Estaduais e Municipais para Migrantes, Refugiados/as e Apátridas: funcionamento e desafios.