O Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH)/Fundação Scalabriniana participou, na manhã de quarta-feira (30/8), do evento “Empresas de Brasília – Contratação e Inclusão de Pessoas Refugiadas”, uma iniciativa entre Fórum Empresas com Refugiados, ACNUR e Pacto Global da ONU no Brasil, em parceria com Grupo Mulheres do Brasil de Brasília, IMDH, SHE Institute, SJMR Brasil, Ata Contabilidade&Consultoria e Senac.
O IMDH esteve representado pela sua diretora, Irmã Rosita Milesi. Coube ao IMDH, no âmbito da programação do Encontro, apresentar dados sobre o perfil dos migrantes e refugiados atendidos pelo Instituto. Segundo as informações prestadas pelos próprios migrantes e refugiados em seu cadastro geral, bem como em seus currículos. Ir. Rosita destacou que algumas características dos migrantes são marcantes e indicam que políticas públicas específicas seriam muito bem-vindas, senão necessárias.
“Há um grande número de crianças e jovens adolescentes, com menos de 18 anos. A migração feminina é expressiva e há muitas mães solo que tem os filhos sob sua responsabilidade; há dificuldade para que os migrantes validem seus diplomas ou obtenham a equivalência do ensino médio para viabilizar continuidade nos estudos. É expressivo o número de pessoas com curso superior e anos de prática profissional, mas por não conseguirem validar seus diplomas se encontram em total impossibilidade de atuar em suas áreas, levando-os a atividades informais, que servem para suprir as necessidades imediatas de sustento, mas à margem de toda a proteção social decorrente de trabalho formal ou de atividades regulares de geração autônoma da renda. Há ainda a barreira do idioma, que é um limitante. Há poucas oportunidades para que aprendam bem o português e são de difícil acesso para eles”, resumiu Irmã Rosita.
Os números trazidos pela diretora do IMDH ilustram bem esse corolário de dificuldades. Os migrantes atendidos pelo IMDH cujos currículos foram analisados são em sua maioria jovens – 67% têm entre 18 e 39 anos; os dados computam pelo menos 30 diferentes nacionalidades, mas em sua esmagadora maioria são migrantes e refugiados venezuelanos; o maior contingente possui ensino médio completo (39%), mas 21% sobre o total de 530 currículos têm curso superior e cerca de 2,5% têm entre pós-graduação e doutorado. No grupo que possui curso superior ou mais anos de estudo, predominam formações nas áreas de Administração, Gestão e Finanças, Educação, Engenharia e Tecnologia, Saúde e Direito.
O encontro serviu para motivar os empresários a abrirem espaços para contratação de migrantes e refugiados. Os relatos são de que os migrantes são muito dedicados, dispostos e desejosos de colaborar com suas capacidades e experiência laboral, e que podem ocupar diferentes funções nas empresas. Em contrapartida, para que a integração funcione, é necessário que o espírito de acolhimento esteja internalizado – com sensibilidade às diferenças culturais e eventuais barreiras linguísticas.
Além de representantes das empresas e organizações envolvidas com a acolhida e integração dos migrantes e refugiados, os próprios acolhidos trouxeram seus relatos de superação. Muitos passaram por atendimento no IMDH e mesmo na Casa Bom Samaritano, espaço de acolhimento gerido pela AVSI Brasil e IMDH e que funciona em estabelecimento cedido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Houve relatos emocionantes, como o da venezuelana Cármen Felicia Marcano, acolhida pela Casa Bom Samaritano. Carmen destacou as dificuldades que teve ao chegar no Brasil, com um filho PcD. Já um dos refugiados atendidos pelo IMDH e que deu seu relato no evento é o cubano Carlos Amel Lopez Santiesteban. Há dois anos ele atua como recepção/agente de cobrança na rede de Laboratórios Sabin, em Brasília. Ele conta que, depois de um período no interior de São Paulo, veio para a capital federal para tentar melhores possibilidades. Santiesteban falou sobre a importância do IMDH e da diretora, Irmã Rosita, na sua trajetória.
“Em São Paulo eu tinha emprego, mas estava em busca de realização profissional e pessoal. Sou formado em Administração e queria trabalhar mais próximo da minha área de formação. Quando cheguei em Brasília, o IMDH me ajudou em algumas questões de documentação. E eu estava angustiado, buscando trabalho. A Irmã Rosita me disse: Carlos, porque você não se inscreve para essa vaga no Sabin? Eu respondi: “Mas você acha uma boa ideia?” A Irmã me apoiou. Fiz o cadastro. Quatro meses depois, me ligaram, fiz entrevista, e fui selecionado”, relembra. E ele completa, emocionado: “Irmã Rosita é meu anjo. Tudo que sou e conquistei aqui no Brasil devo a ela e às pessoas que trabalham com ela no IMDH. E o Sabin hoje é a minha família”.