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[et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text admin_label=”Text”]Projeto é implementado no campo de Kutupalong, em Bangladesh. Local acolhe mais de 860.000 refugiados rohingya
Ajoelhada com outras 14 crianças em um círculo, Myshara, de 13 anos, grita: “Quando estamos em perigo, a quem procuramos?” Myshara pergunta. Vozes e respostas se sobrepõem. “Mamãe e papai! Vovó e vovô!”
A refugiada rohingya Myshara está liderando um grupo de discussão que faz parte de um programa de saúde mental no formato entre pares (peer-to-peer) para jovens refugiados. A iniciativa é administrada com a ajuda do ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, no campo de Kutupalong – o maior dos 34 campos no distrito de Cox’s Bazar, em Bangladesh.
O local é o lar de mais de 860.000 refugiados rohingya, dos quais quase 55% são crianças. A maioria foi forçada a fugir de suas casas em Mianmar em 2017. A violência, as atrocidades e a perseguição os expulsaram.
Os jovens do grupo têm entre 10 e 18 anos. Eles se reúnem regularmente para discutir seus sentimentos, seguindo um processo cuidadosamente planejado. A chave para o impacto dessas discussões é que elas são lideradas por pessoas da sua idade.
Myshara é um desses líderes. Ela foi identificada por voluntários psicossociais da comunidade rohingya que observaram crianças em centros de aprendizagem para encontrar os candidatos certos. Myshara admite que ficou assustada com a responsabilidade.
“No início, quando ensinava as crianças, tinha medo. Agora, eu superei meus medos e minha timidez.” Percebe-se pouca timidez enquanto ela conduz o grupo pelas mensagens principais. Entre elas, “a doença mental não é uma escolha; a recuperação é. E não há vergonha em procurar ajuda”.
Um dos objetivos do programa, que é administrado pelo ACNUR e três organizações parceiras (Relief International, Food for the Hungry e GK), é quebrar uma tradição de estoicismo cultural. Falar sobre sentimentos, particularmente sentimentos de infelicidade e tristeza, não é algo que adultos ou crianças rohingya costumam fazer.
Myshara é um exemplo de como isso está mudando. Quando ela volta para a pequena casa de bambu em uma colina, que divide com seus pais e três irmãs, ela repassa o que aprendeu com o programa.
“Tudo isso está ajudando a nos livrar da nossa experiência sombria”
“É uma grande felicidade para mim ajudar outras pessoas a falar sobre essas coisas”, diz a garota. “Tudo isso está ajudando a nos livrar da nossa experiência sombria.”
O projeto começou com um pequeno grupo de crianças no início de 2019 e, com base em seus comentários positivos, havia se expandido para atingir quase 24.000 crianças até o final do ano.
O início da pandemia COVID-19 no início deste ano significou que os encontros do grupo tiveram que ser reduzidos ou suspensos, exatamente quando as crianças nos campos estavam tendo que lidar com ansiedade e confusão adicionais.
“Estávamos todos com muito medo”, lembra Mustafa, um garoto de 14 anos que comparecia regularmente às sessões. “Quando não podíamos nos encontrar, doía. Estávamos realmente sofrendo porque não podíamos expressar nossas emoções, não podíamos nem brincar com nossos amigos.”
Apesar de faltar às sessões de grupo, muitas das crianças usaram as habilidades que desenvolveram nos primeiros meses do programa para ajudar suas comunidades a lidar com o impacto da quarentena na saúde mental.
“Como não podíamos nos locomover tanto, decidi falar com minha família e meus vizinhos que moram perto. Disse-lhes que, por mais difícil que fosse, a situação era temporária e não duraria para sempre. Eu os incentivei a falar sobre seus sentimentos, pois isso pode ajudá-los a curar sua dor”, disse Muhammad, de 18 anos, o líder carismático de um dos grupos.
“As lições que aprendemos aqui alcançam muitas pessoas”
“Quando falamos com nossas famílias, elas falam com a comunidade, então as lições que aprendemos aqui chegam a muitas pessoas. Acho que melhorou a forma como toda a comunidade lida com as emoções”, acrescenta.
Desde junho, as sessões foram retomadas, mas com grupos menores para permitir o distanciamento social. À medida que mais e mais crianças aparecem querendo participar, novos grupos são iniciados para atender à demanda. Apesar da quarentena, o número de crianças que frequentam as sessões agora chega a quase 30.000.
Mahmudul Alam, oficial assistente de saúde mental e apoio psicossocial do ACNUR, explica que o programa foi projetado não apenas para capacitar as crianças a ensinarem umas às outras, mas para desenvolver suas habilidades de liderança, autoconfiança e capacidade de lidar com a adversidade.
“Muitas dessas crianças perderam amigos e entes queridos quando foram forçadas a fugir de Mianmar em 2017”, diz. “Este programa as ajuda a se reconectar e a aumentar sua resiliência. Construir sua autoconfiança foi crucial.”
Para a líder do grupo de 11 anos, Hamida, o programa a ajudou a lidar com seus medos e obter apoio de seus colegas. “Aqui falamos sobre o que é paz mental. Sempre que nos sentimos ansiosos, fazemos exercícios respiratórios”, afirma.
“Agora sabemos que a ansiedade e a depressão têm solução, não há nada a temer.”
Desde o início da crise rohingya, o ACNUR está atuando para fornecer comida, abrigo, saúde e soluções duradouras que os permitam reconstruir suas vidas.
Fonte: ACNUR[/et_pb_text][/et_pb_column]
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