Ir. Rosita Milesi, mscs – IMDH
O Dia Mundial da Paz é esperado, sempre na expectativa de que ele possa ser um momento forte para encontrarmos a Paz que todos e todas desejamos.
E neste 1º de janeiro de 2018, com a Mensagem “Migrantes e Refugiados: homens e mulheres em busca da Paz”, um grande apelo que nos chega do Papa Francisco, grande mensageiro de paz e fraternidade: “A paz é o que buscam muitos dos migrantes e refugiados: os que fogem da guerra, mas também os que fogem da fome ou da opressão”. E ele mesmo nos apresenta o que podemos chamar ações que compõem um programa prático e possível na atenção aos refugiados e migrantes, seja em relação a um ou uma, seja no alcance a muitos, milhares e milhares, em nossos dias.
“Oferecer a migrantes e refugiados uma possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar.” E para inserir-nos nas possibilidades de efetivamente praticar estas ações, exemplifica em que consistem:
Suas palavras nos ensinam que “Acolher” apela para a exigência de ampliar as possibilidades de chegada e entrada legal e de regularização migratória de quem se encontra no País; não enviar refugiados ou migrantes a lugares onde podem encontrar perseguições e violência; colocar a preocupação com os direitos humanos acima da preocupação com a segurança nacional; e que os direitos fundamentais do ser humano sejam o primeiro ponto que vamos defender e priorizar ao encontramos migrantes e refugiados em nosso caminho ou nas fronteiras de nosso País.
Quando fala em “Proteger”, lembra-nos o dever de reconhecer e garantir o respeito à dignidade inviolável destas pessoas refugiadas ou migrantes que fogem de perigos e ameaças à vida e saem em busca de proteção e segurança. Proteger significa impedir sua exploração ou que sejam abusadas, lembrando, de modo especial, as mulheres e crianças.
“Promover” é ajudar estas pessoas e encontrar espaço e oportunidade para o desenvolvimento humano e pessoal; oferecer-lhes uma chance de trabalho digno ou emprego; é criar oportunidade para que os jovens e as crianças possam estudar, desenvolver-se, fazer frutificar suas capacidades; é construir espaços de diálogo onde uns possam ir ao encontro dos outros, encontrando-se como irmãos e irmãs, filhos do mesmo Deus – independentemente do nome com o qual o chamemos – e portanto, membros verdadeiros e reais da mesma família – a humana.
E falar em “Integrar” significa darmos possibilidade a que migrantes e refugiados participem plenamente da vida em comunidade, em nossos espaços de lazer, de andar pela rua sem ser agredidos ou ofendidos, de ingressar no mercado de trabalho em igualdade de oportunidades e condições, de ver seus filhos e filhas brincando com as crianças brasileiras como coleguinhas que se divertem e se amam; é acreditar e abrir espaço para a convivência de culturas diversas, com usos, trajes, comidas, línguas e rezas diferentes; é ver com alegria que a comunidade se enriquece com a presença do outro.
No mundo, são mais de 260 milhões de migrantes; ali estão 65,5 milhões de pessoas deslocadas forçosamente; são aproximadamente 22,5 milhões de refugiados e refugiadas; 2,5 milhões de solicitantes de refúgio; e 40,3 milhões de pessoas deslocadas forçosamente no interior dos próprios países.
No Brasil, aproximadamente 1.2 milhão de migrantes; os refugiados, em dado cumulativo, são 10.141 mil; e, 31.505 solicitantes de refúgio, até 1º de novembro de 2017.
Estes dados, seguramente nos impressionam. Mas isto não é suficiente. Somos chamados a pôr em prática os quatro verbos, as quatro ações – acolher, proteger, promover, integrar. Há quem possa e deva incidir em decisões e ações de abrangência mundial, outros em âmbito regional, nacional, local…
Mas, há sempre um espaço onde todos e onde cada um/a pode atuar… Na dimensão pessoal, comunitária, institucional, no contexto da empresa onde trabalhamos, no mercado e na rua por onde transitamos, no clube, na praça ou no parque que frequentamos… é infinita oportunidade que temos de combater a xenofobia, de evitar a rejeição e a discriminação, de abrir espaço ao outro, de acolher de alma e coração sinceros, da fazer um gesto concreto de partilha, de elevar uma oração que difunda o espírito de fraternidade universal de família humana. Estaremos, pois, inspirados por sentimentos de compaixão, e com verdadeira paixão, fazendo avançar a construção da paz que todos e todas nós desejamos para o mundo e para cada ser humano, seja migrante, seja refugiado, seja apátrida, seja brasileiro ou brasileira. Acima da nacionalidade, está a cidadania da dignidade inalienável de todos os membros da família humana.
Brasília, 31 de dezembro de 2017