O vídeo – realizado com a colaboração de Tele VID e com o apoio do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral – é uma história a partir das fronteiras de várias partes do mundo. Aparecem rostos sufridos, pés que caminham, bolsas cheias com o pouco que se conseguiu levar de casa. Mas também pode-se ver gestos de solidaridade, abraços, projetos de acolhida: o Papa recorda aos cristãos que “quem acolhe a um migrante, acolhe a Cristo”.
Na sociedade atual, inclusive nas nações que se dizem cristãs, este parece ser um princípio esquecido: de fato hoje, denuncia o Papa Francisco, “em alguns países onde chegam, os migrantes são vistos com alarme, com medo”, e isto leva ao “fantasma dos muros: muros na terra, que separam as famílias e muros no coração”. Mas “os cristãos”, adverte o Papa, “não podemos compactuar com esta mentalidade”.
Fuga e desenraizamento
Nos últimos anos, o número de desalojados superou ao da Segunda Guerra Mundial. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCF), durante o ano de 2023 mais de 110 milhões de pessoas foram deslocadas à força em todo o mundo. Neste contexto, o Papa Francisco lembra que aos migrantes se devem acompanhar, promover e integrar.
“Ao drama que vivem as pessoas forçadas a abandonar sua terra, fugindo de guerras ou da pobreza, se une tantas vezes o sentimento de desenraizamento, de não saber aonde se pertence”, lamenta o Papa no início do vídeo – que é lançado no mês em que a ONU comemora o Dia Internacional do Refugiado (20 de junho). E por isso mesmo pede que se “promova uma cultura social e política que proteja os direitos e a dignidade do migrante. Uma cultura que os promova em suas possibilidades de desenvolvimento”.
Uma nação universal
O tema dos migrantes e refugiados tem preocupado o Papa Francisco desde o início de seu pontificado. Já na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013) disse: “Os migrantes me colocam um desafio particular por ser Pastor de uma Igreja sem fronteiras que se sente mãe de todos. Por isso, exorto a todos os países a uma abertura generosa que, em lugar de temer a perda da identidade local, seja capaz de criar novas formas de síntese cultural”.
Anos mais tarde, na Encíclica Fratelli Tutti (2020) convidava a ter “um coração aberto ao mundo intero” e respeitar “o direito de todo ser humano a encontrar um lugar aonde possa […] realizar-se integralmente como pessoa”. Assim como também, reforçou a necessidade de desenvolver uma “cultura do encontro” na qual haja pontos de contato, se construam pontes e se projete incluindo a todos. Nesse sentido, o vídeo renova o pedido do Papa para não ser indiferentes diante da crise migratória.
Deus caminha com seu povo
Em consonância com a intenção deste vídeo, desde 1914, a cada ano a Igreja convida a rezar pelos migrantes no marco da Jornada Mundial do Migrante e Refugiado. “Deus caminha com seu Povo” é o lema escolhido para a edição de 2024 que se realizará no próximo dia 29 de setembro.
O prefeito do Dicastério para o Servição do Desenvolvimento Humano Integral que organiza e divulga jornada, Cardeal Michael Czerny, reflete: “O Papa Francisco nos lembra que ‘Deus caminha com seu povo’. A Sagrada Família teve que refugiar-se em terra estrangeira porque a vida do Menino Jesus estava em perigo. Todos estamos convidados a acolher, proteger, promover e integrar as pessoas que abandonam sua pátria para salvar suas vidas ou em busca de um futuro digno. Ao proteger os direitos dos migrantes, se promove o desenvolvimento humano integral de todos e as comunidades que acolhem se enriquecem de tantas maneiras”.
Nações com responsabilidades fraterna
O Padre Frédéric Fornos, S.J., Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, refletindo sobre o drama dos migrantes, afirma: “Os migrantes que fogem da guerra e da fome, tantas vezes sobreviventes desesperados e aflitos de viagens perigosas, são objeto de batalhas políticas. É importante recordar que não são apenas números nem estatísticas, são pessoas. Nossas histórias pessoais e coletivas estão marcadas pela migração. Ao invés de tratar os migrantes como um peso ou um problema, devemos encontrar soluções baseadas na compaixão e no respeito à dignidade humana. Este olhar nasce do Evangelho e da oração e o Magistério da Igreja nos recorda sempre”.
O Padre Fornos lembra a reflexão do Papa Francisco na Fratelli Tutti: “A verdadeira qualidade dos distintos países do mundo se mede por esta capacidade de pensar não somente como país, mas como família humana, e isto é provado especialmente em épocas críticas. […] Somente uma cultura social e política que integre a acolhida gratuita poderá ter futuro”.