A casa de acolhida é um projeto do CIBAI Migrações, dos padres Scalabrinianos que visa a integração sociolaboral das pessoas em situação de migração e refúgio. O espaço tem capacidade para abrigar 80 pessoas, entre adultos e crianças.
Aconteceu no último sábado, 3 de julho, a inauguração da Casa do Migrante Guadalupe na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A Casa é uma extensão do CIBAI Migrações (Centro Ítalo-Brasileiro de Assistência e Instrução às Migrações), uma iniciativa dos Missionários de São Carlos – Scalabrinianos, por meio da Associação Beneficente São Carlos.
“A ideia surgiu quando fui distribuir alimentos para as pessoas em situação de rua no viaduto da Conceição, em Porto Alegre, em abril de 2020, quando encontrei uma família migrante venezuelana, um casal com três filhos menores, que estavam vivendo em situação de rua”, conta o Pe. Anderson Hammes, cs, diretor do CIBAI Migrações. Os adultos da família tinham perdido o emprego e, sem ter como pagar o aluguel, foram despejados da casa. “Veio-me a pergunta, o que posso fazer de diferente para estas pessoas e tantas que vão estar vivendo em situação de rua? A partir deste momento surgiu a ideia de abrir uma casa de migrante para acolher famílias em situação de vulnerabilidade, porque as pessoas mais atingidas são as mulheres e as crianças”, completa.
Ao partilhar a experiência e suas reflexões com os superiores, surgiu a oportunidade de utilizar a antiga casa de formação para o Noviciado, que ficaria vacante. A partir disso, foi realizada uma reforma e adequações na casa para receber os migrantes. “Uma lição aprendida: sozinhos não podemos mudar o mundo, mas ao partilhar ideias a corrente do bem se concretiza”, disse Pe. Anderson.
Ele conta, ainda, que a cidade de Porto Alegre foi escolhida para sediar a Casa do Migrante Guadalupe porque é um polo atrativo aos migrantes, pela grande quantidade de oportunidades de emprego e, por isso, é a cidade de destino de muitos migrantes. A casa tem capacidade máxima para 80 pessoas. Inicialmente, irão trabalhar no local 12 funcionários e 25 voluntários. Apesar de os migrantes já serem encaminhados a albergues, esses eram insuficientes para as demandas, uma vez que esses lugares não acolhem crianças e muitas famílias vêm com crianças pequenas para o Brasil.
“O nome Casa do Migrante Guadalupe se deve a Nossa Senhora Guadalupe, imperatriz da América e virgem Maria, a Mãe de Jesus Cristo. Uma casa de acolhida precisa ser como uma mãe que dá carinho, cuidado, amor, mãe que educa e que impulsiona os filhos a serem protagonistas da própria vida. A Casa do Migrante Guadalupe é um lugar de aconchego e de promoção a vida”, explica Hammes.
Antes mesmo da inauguração oficial, já haviam migrantes vivendo na Casa, que tem o projeto de abrigar mais 60 pessoas, que poderão permanecer na casa durante 7 dias. O diretor do CIBAI explica o motivo da curta permanência na Casa: “Primeiro para não institucionalizar o migrante; segundo, para oferecer um serviço integral ao migrante; terceiro, porque é uma casa de apoio para a integração sociolaboral; e quarto, porque a demanda de alojamento é muito grande e precisamos fazer um pouco de bem a muitas pessoas.”
A Casa do Migrante Guadalupe oferece aos migrantes área de convivência comunitária, quartos familiares e/ou quartos compartilhados para aqueles que chegam sozinhos, além de serviços básicos de higiene, comida, roupas, orientação, transporte, entre outros.
Cerimônia de inauguração
A cerimônia de inauguração da Casa do Migrante Guadalupe contou com a presença de autoridades políticas e da Igreja, como o Arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, que deu a bênção religiosa à Casa.
“Que o senhor Jesus esteja aqui no meio de vós, alimente em vós a caridade a favor dos nossos irmãos e irmãs migrantes, participe das suas alegrias e alivie as provações. Guiados pelas palavras e gestos de Cristo, possais realizar de maneira concreta, a favor das pessoas que serão aqui acolhidas, nesta casa, a verdadeira espiritualidade do bom samaritano”, proferiu dom Jaime, fazendo referência ao Evangelho lido anteriormente, no qual Jesus fala por parábola do bom samaritano, que acolhe com compaixão o homem ferido à beira da estrada.
Em sua reflexão após a bênção, o Arcebispo de Porto Alegre recorda o passado migrante de muitos brasileiros, que vieram em busca de melhores condições de vida e que, como ele enfatiza, passaram por adversidades que hoje podem ser amenizadas com o serviço pastoral em favor dos migrantes. “Eles foram desafiados, e contribuíram de uma forma extraordinária para a nossa cultura, história, economia, sociedade e para nossa Igreja”, diz.
Ele ressalta, ainda, o trabalho das diversas Instituições religiosas que atuam na cidade de Porto Alegre em favor dos migrantes e dos necessitados, que permitem que a cidade prospere, apoiando quem mais precisa, enfatizando o bem realizado por esses trabalhos.
A cerimônia ainda contou com a fala do coordenador de projetos da OIM em Porto Alegre, Iurqui Pinheiro da Rocha e do representante do Comitê Municipal para Atenção os Imigrantes, Refugiados, Apátridas e Vítimas do Tráfico de Pessoas no município de Porto Alegre, Mario Fuentes. “Esta casa tem uma importância muito grande, porque o processo de imigração passa pelo acolhimento, e um acolhimento com essa perspectiva de inserção na sociedade nos seus diferentes aspectos, é muito importante”, disse Fuentes.
O migrante venezuelano José Ramón, acolhido pela Casa do Migrante Guadalupe, que contou sobre sua chegada a Porto Alegre e a acolhida pela equipe da Casa. José contou que passou 2 dias dormindo na rua, até que foi procurar o CIBAI, em busca de apoio para conseguir emprego, e foi acolhido na Casa, onde obteve ajuda com comida e roupas. “El migrante no es una persona que decidió ‘me voy a migrar’ ”, ressaltou, ao dizer que os migrantes saem em busca de oportunidades de vida, muitas vezes sozinhos e deixando a família em seu país natal, sem conhecer nada nem ninguém no país de destino.
“Gracias le dio a Dios, por poner em mi camino estas personas que me acogieran y permitirán que viva mi vida aquí”, finalizou.
O trabalho do CIBAI Migrações
O Centro Ítalo Brasileiro de Assistência e Instrução às Migrações (CIBAI Migrações) é uma associação beneficente que promove a garantia e a defesa de direitos dos migrantes, com ênfase na integração sociolaboral. Atendimento e orientação acolhimento e escuta; Orientação para documentação e encaminhamento para os órgãos competentes; Assistência jurídica e psicológica; Capacitações de português para migrantes, informática, corte e costura, limpeza e faxina doméstica, garçom e garçonete, energia fotovoltaica, comportamento profissional, empreendedorismo, curso de cabeleireiro, capoeira, são alguns dos vários serviços que a Casa oferece em vista da promoção e integração dos imigrantes e refugiados.
Somente em 2021, o CIBAI afirma ter prestado mais de 8 mil atendimentos, sendo a maioria para migrantes venezuelanos, haitianos e senegaleses. Você pode saber mais sobre o trabalho realizado através do sitedo CIBAI, Instagramou Facebook.
Por Amanda Almeida, Imprensa Scalabriniana