Deslocamento em Cabo Delgado ainda não preocupa o mundo

Aproximadamente 700 mil pessoas já fugiram da violência; números continuam aumentando como resultado da crescente insegurança; representantes da agência visitaram província na semana passada.

Cerca de 670 mil pessoas já fugiram da violência em Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique, mas a crise ainda não conseguiu atrair a atenção do mundo. Para destacar a situação, a alta comissária assistente para Proteção da Agência da ONU para Refugiados, Acnur, Gillian Triggs, e o alta comissário assistente para Operações, Raouf Mazou, visitaram a região na semana passada.

Necessidade

Em nota, a agência afirma que a maioria das pessoas busca abrigo na comunidade local e centros urbanos, enquanto outros foram realocados em assentamentos improvisados, onde estão privados de serviços básicos. Gillian Triggs e Raouf Mazou estiveram em Ancuabe, que hospeda 951 famílias. No assentamento, as famílias enfrentam dificuldades para retomar a sua vida normal.

Para os assistentes do ACNUR, a crise humanitária e de proteção é grave. A necessidade de abrigo adequado e resistente é uma prioridade, uma vez que às chuvas fortes se fazem sentir na província. Gillian Triggs disse que a situação de Cabo Delgado é uma verdadeira tragédia humanitária, o que obriga o reforço das necessidades de proteção para mulheres, crianças e homens.

Já Raouf Mazou afirmou que o deslocamento de pessoas “pode não parar tão cedo”. Ele elogiou as comunidades anfitriãs pelo gesto de acolhimento a milhares de famílias deslocadas.

O ACNUR trabalha em coordenação com o governo e outras organizações internacionais e parceiros para prestar ajuda aos deslocados internos. Dados da agência indicam que mais de 2 mil pessoas foram mortas desde o início dos ataques, em 2017. Existem relatos generalizados de abusos de direitos humanos e desrespeito ao Direito Internacional Humanitário.

Vítimas

Herculano de 64 anos, é uma das vítimas desta crise. Ele deixou tudo para trás, fugindo da sua aldeia no distrito de Quissanga com sua família, incluindo dez filhos e oito netos. Ele contou ao ACNUR que trabalhava na roça e não tinha problemas em alimentar sua família. Ele tinha uma oficina de carpintaria e também criava gado, como cabras, galinhas e patos. Agora, ele diz que a situação é difícil, porque não consegue “ganhar nem um centavo.”

Além dos ataques, a região está a recuperar-se dos recentes choques climáticos, incluindo ciclones, inundações e surtos recorrentes de doenças transmitidas pela água. O ACNUR tem prestado assistência humanitária de emergência, distribuindo materiais para abrigos, itens básicos de socorro, como lonas, colchões, cobertores, conjuntos de cozinha, baldes e lâmpadas solares. Até ao momento, apenas 39% do apelo do ACNUR para Cabo Delgado foi financiado.

Fonte: www.missionariascalabrinianas.org.br