Projeto Empoderando Refugiadas promoveu treinamento e capacitação de 30 refugiadas e migrantes em Boa Vista, das quais nove chegaram com suas famílias em São Paulo para trabalhar em empresas parceiras.
Na manhã desta segunda-feira (26), nove mulheres refugiadas e migrantes da Venezuela desembarcaram em Campinas (SP) para iniciar uma nova etapa em suas vidas. Como chefes de família, essas mulheres participaram das atividades de formação promovidas por meio do projeto Empoderando Refugiadas em Boa Vista (RR), realizaram entrevistas de emprego e foram contratadas – já no início de novembro iniciarão suas novas carreiras profissionais em São Paulo (SP).
As oportunidades de empregos são resultado do projeto Empoderando Refugiadas, uma iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres que visa promover o acesso de mulheres refugiadas ao mercado de trabalho brasileiro, promovendo encontros de formação e capacitação profissional, de forma paralela à captação de vagas de emprego por meio da mobilização e do engajamento de diversos parceiros do setor privado.
Em seu quinto ano, o Empoderando Refugiadas iniciou as atividades da segunda turma de Boa Vista em setembro, envolvendo 30 mulheres que viviam em abrigos geridos pelo ACNUR e seus parceiros. As participantes do projeto tiveram 80 horas de módulos de conhecimentos como capacitação para o desenvolvimento de habilidade socioemocionais, atendimento ao púbico, técnicas de vendas e comercialização, legislação brasileira e educação financeira.
“Fui a primeira da minha família a chegar ao Brasil justamente para que eu, mulher, possa trilhar os caminhos deles. Eu era atendente em uma padaria e agora, com os conhecimentos adquiridos pelo Empoderando Refugiadas, serei assistente nas Lojas Renner. É um reconhecimento dos meus esforços e sou muito grata a esta oportunidade. Além de ajudar minha própria família, tenho ainda o dever de ajudar a família do meu marido, que está toda na Venezuela”, disse Stefani, de 25 anos.
Além das Lojas Renner, as nove mulheres venezuelanas que participaram do Empoderando Refugiadas e foram interiorizadas começarão a trabalhar no início de novembro na Drogaria São Paulo, na locadora de automóveis Unidas e no Shopping Iguatemi. Outras mulheres venezuelanas que participaram do Empoderando Refugiadas serão interiorizadas nas próximas semanas para atuarem nestas mesmas empresas nos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O projeto Empoderando Refugiadas pretende capacitar 70 mulheres que vivem em Boa Vista até o fim do ano, inclusive com turmas voltadas para a capacitação de pessoas com deficiência. Ao todo, mais de 300 pessoas devem ser interiorizadas porque, junto com as mulheres empregadas, chegam também às cidades de destino suas famílias.
Apesar das dificuldades de ser mãe solteira, sei que tenho muito a me dedicar pelo futuro dos meus filhos e de meus sobrinhos. Cheguei em São Paulo não por acaso, mas por acreditar em meu potencial e que tenho um longo caminho pelo bem-estar da minha família. Sinto-me empoderada para isso”, afirmou Dilmaris, mãe de seis filhos e que trouxe com ela a irmã e seus três sobrinhos.
A contínua formação de mulheres é um tema central das políticas das Nações Unidas. A participação de mulheres refugiadas no projeto possibilita que venezuelanas possam aprimorar seus conhecimentos, conciliando-os com os saberes que já trazem pelas experiências e saberes prévios que não são perdidos com o deslocamento em busca de proteção.
“O ACNUR reconhece todo o potencial das mulheres refugiadas em se tornarem autossuficientes por seus próprios méritos, pois têm conhecimentos, experiências profissionais, capacidade de novos aprendizados, assim como determinação e comprometimento. A dedicação com afinco na capacitação resulta em oportunidades que as fazem mostrar todo o seu talento”, afirma Beatriz Nogueira, chefe do escritório do ACNUR de São Paulo.
Segundo Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, “o projeto potencializa o conhecimento dessas profissionais, adaptando essa experiência à realidade do mercado de trabalho brasileiro. E as empresas, cada vez mais, atuam por meio da empregabilidade, que vem crescendo ano a ano. O empoderamento econômico é uma das melhores, se não a melhor maneira de recomeçar uma história em um novo país”.
Além dos trabalhos fundamentais da Operação Acolhida, a resposta humanitária do Governo Brasileiro ao fluxo de pessoas venezuelanas e que realiza a logística da interiorização para mais de 600 cidades no país, o deslocamento voluntário deste grupo de mulheres do Empoderando Refugiadas também contou com a parceria da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil), que implementa o projeto “Acolhidos por meio do trabalho” – financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM), do governo dos EUA. Este projeto prevê moradia temporária por três meses para as famílias interiorizadas, contando com o acompanhamento de um assistente social para as apoiar na adaptação com as empresas e nos seus bairros de residência.
“O apoio a essas mulheres é extremamente importante nesse período de transição, de forma que elas consigam estar amparadas para poderem exercer seu pleno potencial profissional e alcancem a autossuficiência junto de suas famílias”, explica a gerente do projeto na AVSI Brasil, Thais Braga.
A 5ª edição do Empoderando Refugiadas conta com o apoio de empresas parceiras como Carrefour, Lojas Renner, MRV, Sodexo, Uber, Unidas. As empresas são integrantes ou passam a integrar a plataforma empresascomrefugiados.com.br, que disponibiliza informações sobre a contratação de profissionais refugiados, cases de sucesso, materiais de referência e pesquisas sobre o tema. O projeto é executado com a colaboração do Programa de Apoio à Recolocação de Refugiados (PARR), Foxtime, We Work e Grupo Mulheres do Brasil. As metodologias de trabalho são do Senac Roraima e da Aliança Empreendedora.
Fonte: ACNUR