IMIGRANTES OU REFUGIADOS? COMO UMA SIMPLES PALAVRA MUDA TUDO
A rede árabe de televisão Al Jazeera lançou uma discussão necessária sobre a crise de refugiados do Mediterrâneo.
Em um post publicado na última quinta-feira em seu site, a organização de notícias disse que deixaria de usar a palavra “imigrante” para se referir a pessoas que tentam atravessar o Mediterrâneo fugindo de conflitos armados.
“A palavra imigrante não dá conta de descrever a complexidade e horror no Mediterrâneo. Ela desumaniza e distância”, escreveu o editor Barry Malone. Desde então, a rede usa apenas as palavras “pessoas”, “famílias” e “refugiados”.
O jornalista foi um dos primeiros a tuitar a foto feita do fotógrafo alemão Daniel Etter que mostra uma família síria desembarcando na Grécia na semana passada e que se tornou viral.
“Não há crise de imigração no Mediterrâneo”, continua o jornalista, mas “um número muito grande de refugiados que fogem da miséria inimaginável e do perigo e um número menor de pessoas que tentam escapar da pobreza que leva alguns ao desespero”.
Para Malone, o termo “imigrante” reduz a crise humanitária dos refugiados a uma crise de contornos econômicos que demandaria resistência enérgica por parte dos países europeus e alimentaria movimentos xenofóbicos.
“O argumento de que a maior parte dos que arriscam tudo para aportar nas praias da Europa estão fazendo isso por dinheiro não se apoia em fatos”, afirma.
De acordo com a ONU, a maioria das pessoas que se afogam tentando chegar à Europa estão fugindo da guerra e da perseguição em seus países de origem, como Síria, Afeganistão, Iraque, Líbia, Eritréia e Somália, e devem ser reconhecidos como candidatos à asilo.
Recentemente, a Fundação Thompson Reuters, que trabalha com direitos humanos, reiterou as diferenças entre os termos. Segundo o comunicado, apesar de viajarem frequentemente da mesma forma, imigrantes econômicos optam por deixar seu país para melhorar suas perspectivas econômicas e a de seus familiares, ao passo que os refugiados têm de se deslocar para salvar suas vidas ou preservar sua liberdade.
Em artigo publicado nesta quinta (27), na BBC, o Professor Alexander Betts, diretor do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford e autor do livro “Sobrevivência de imigração: Governança falha e a crise do deslocamento” observa que escolha de palavras pode ser determinante na busca de soluções para a crise de refugiados do Mediterrâneo.
“Enquanto os políticos e os meios de comunicação de forma inadequada caracterizam este [movimento] como uma ‘crise de imigração’, a esmagadora maioria das pessoas são provenientes de países produtores de refugiados”, escreve o especialista.
E alerta: “A Europa tem uma história orgulhosa de proteção aos refugiados, tendo criado o moderno regime de refugiados depois do Holocausto. Esta tradição está sob ameaça”.
FONTE: Revista Exame: http://exame.abril.com.br/…/imigrantes-ou-refugiados-como-u…