Vivemos em tempos de profundas crises humanitárias, onde as fronteiras, que deveriam ser pontos de encontro, transformaram-se em barreiras de separação. Segundo dados do ACNUR 2023, existem quase 120 milhões de pessoas deslocadas à força no mundo, sendo que 43.4 milhões delas são refugiadas[1], em busca desesperada de segurança e dignidade. Esses números alarmantes nos convocam a uma reflexão profunda sobre a nossa “responsabilidade coletiva e individual”[2] diante do sofrimento humano.
As estatísticas recentes do ACNUR revelam não apenas números, mas histórias de dor e resiliência, de famílias que deixaram tudo para trás em busca de uma nova chance. Entre os deslocados, milhões são crianças, que carregam em suas mentes e corações as marcas de uma infância interrompida. Diante desse cenário, somos chamados a agir, inspirados pela mensagem do Papa Francisco para o 110º dia Mundial do Migrante e Refugiado, que nos lembra: “o encontro com o migrante, bem como com cada irmão e irmã que passa necessidade, é também encontro com Cristo.”[3].
Nesta perspectiva, a proteção dos direitos humanos de migrantes e refugiados não é apenas uma responsabilidade legal ou institucional; é uma expressão de nossa humanidade compartilhada. As histórias desses homens, mulheres e crianças são, em essência, o reflexo de nossa própria jornada coletiva em direção à justiça, à paz e à compaixão. Eles nos lembram que, em cada passo dado para proteger a dignidade alheia, estamos também fortalecendo a nossa.
Em um mundo com milhões de deslocados, sejam internos ou internacionais, não podemos nos permitir a indiferença. É nossa vocação transformar essa reflexão em ação, promovendo políticas que “acolham, protejam, promovam e integrem”[4] os migrantes, refugiados e apátridas. Para isso, precisamos trabalhar incansavelmente para garantir que os direitos humanos sejam respeitados em todos os cantos do mundo, a começar pela nossa responsabilidade local e comunitária.
“Deus caminha com seu povo” nos lembra o Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que celebramos no último domingo de setembro. Unamos, pois, nossa voz e nossa oração em defesa da vida e dos direitos desta imensa população que sofre as consequências da destruição da Casa Comum, das perseguições e das guerras.
É de todos e de cada pessoa a responsabilidade de, como membros da comunidade local e internacional, continuar a avançar na construção de um mundo onde os direitos humanos sejam verdadeiramente universais, e onde cada migrante e refugiado encontre não apenas abrigo, mas também respeito, dignidade e oportunidades de reconstruir sua vida. Trata-se de um compromisso indispensável no cumprimento do nosso dever moral e espiritual de caminhar, lado a lado, com aqueles e aquelas que buscam uma vida melhor, com dignidade, numa terra de acolhimento, paz e esperança.
Ir. Rosita Milesi, mscs
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Artigo publicado originalmente pela Conferência dos Religiosos do Brasil – Regional Brasília
[1] https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugiados/
[3] https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2024/06/03/0466/00957.html#PORT