Pronunciamento de Ir. Rosita durante a homenagem pelo Prêmio Nansen no Palácio do Itamaraty

Boa noite, senhoras e senhores!

Cumprimento nosso ministro das Relações Exteriores, embaixador MAURO VIEIRA, que nos acolhe nesta casa, e a primeira-dama, ROSÂNGELA LULA DA SILVA, JANJA, que muito nos honra com sua presença. Gostaria ainda de, na pessoa do nosso visitante ilustre, o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, FILIPPO GRANDI, estender minha saudação a todas as demais autoridades e ao público aqui presentes.

Senhor Alto Comissário, que alegria, que honra e privilégio recebê-lo aqui em nosso país! Como é sua característica, e como fez Nansen a seu tempo, sua presença nos anima e nos convida a sermos criativos, inovadores e audazes em nossas ações. Só assim as pessoas refugiadas, migrantes e apátridas terão sempre mais acolhida, espaço, proteção e integração, com dignidade.

Sempre afirmei que a honrosa premiação NANSEN não se encerra na minha pessoa, sem considerar todo o seu contexto. A minha caminhada não me pertence. São, também, protagonistas desta história todos aqueles e aquelas que emprestaram seu tempo, esforços e apoio, em tantas oportunidades ao longo dos quase 40 anos de atuação – as pessoas refugiadas, minha família, minha Congregação, os profissionais humanitários, os representantes de governo, os organismos internacionais, as instituições de defesa de direitos, os membros da sociedade civil, organizações de fé e tantas pessoas amigas e colaboradoras. Obrigada a todos e todas! Nesta trajetória, posso afirmar que cada pessoa ou família a quem me foi dada oportunidade de ajudar, sem perceber, deu a mim mais do que de mim recebeu. As histórias de vida que conheci me ensinaram o que nenhum livro jamais conseguiria expressar.

Minha homenagem e agradecimento à equipe do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Essa pauta não teria tido os avanços que teve sem a presença e atuação do ACNUR no país.

O Prêmio NANSEN, por sua importância, motiva o mundo e, neste momento particularmente o Brasil, a ver refugiados e migrantes com um olhar sempre mais atento, positivo, colaborando para que superemos a invisibilidade que às vezes faz com que passemos ao lado deles, sem vê-los, como fizeram os dois transeuntes que antecederam o Bom Samaritano. Mas, obrigada, a todos aqueles e aquelas que foram, sim, e estão sendo o Bom Samaritano na vida de milhares de pessoas que hoje se sentem acolhidas e apoiadas, conseguindo, assim, viver com dignidade em nosso país.

Permitam-me apresentar brevemente o IMDH: somos uma associação sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, vinculada à Fundação Scalabriniana, da Congregação das Irmãs Scalabrinianas.

O IMDH se dedica ao atendimento socioassistencial e jurídico, à acolhida humanitária, à documentação e à integração social e laboral de pessoas solicitantes de refúgio, refugiadas, deslocadas, migrantes e apátridas, principalmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade. Atuando em Brasília e em Roraima, atendemos, em 2023, 12.590 pessoas e neste ano, até outubro, já passa de 11.000 pessoas atendidas. Em Roraima, priorizamos o atendimento a mulheres e crianças, buscando também a promoção da mulher.

Estamos abertos a parcerias. Obrigada a quem já nos apoia e a quem se dispuser a colaborar para fortalecer nossas respostas aos desafios desta causa humanitária que nos é comum. Em conjunto, atuemos convictamente para que as políticas públicas que temos e novas disposições legais e medidas práticas que conseguirmos implementar sejam efetivas e acessíveis à população a que se destinam.

Com tristeza na alma, nossas lágrimas acompanham dados e imagens estarrecedoras de mortes, de desespero, de sofrimento gerado particularmente pelas guerras. Que tristeza ver milhares de crianças refugiadas quando conseguem fugir de situações piores “afogadas em sangue”, como sinaliza Dionisio Baez. Sejamos persistentes em elevar nosso pensamento positivo e nossa oração em favor da paz. E aqui, nesta casa, obrigada, Senhor Ministro e instâncias da diplomacia! Deus os ilumine sempre para que possam colaborar, ser pacientes e ao mesmo tempo insistentes em suas gestões internacionais na mediação de soluções dialogadas para estes terríveis conflitos.

Prezados amigos e amigas, o Prêmio Nansen nos convida a estendermos seus efeitos para além dos cumprimentos, alegrias e celebrações. Propõe-nos a realização de uma ação concreta, em favor da causa humanitária a bem da sociedade. É reconhecido que uma das causas que mais produz deslocamentos forçados no mundo nos dias de hoje é o desequilíbrio do clima, o mau tratamento da natureza e suas consequências. Assim, junto com o ACNUR, traçamos as ideias gerais de um projeto voltado à formação para jovens brasileiros, brasileiras, refugiados e migrantes em prol da sensibilização socioambiental sempre na expectativa e confiança de que os e as jovens sejam verdadeiros protagonistas em favor do respeito e da vida no planeta Terra, nossa Casa Comum, como escreve o Papa Francisco.

Muito obrigada!

Palácio do Itamatary, dia 09 de dezembro de 2024

Ir. Rosita Milesi
Diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH)